Cine São Luiz: o (re)encontro de Paulo com as poltronas vermelhas

Sala do Cine São Luiz, em Fortaleza
Foto: Paulo Cardoso
O Cine São Luiz é uma das casas mais tradicionais do povo cearense, inspira crianças e adultos que passam por suas salas e proporciona a essas pessoas momentos únicos, fazendo com que elas saiam de lá com uma sensação de amor, carinho e pertencimento. Às vezes, isso reverbera por uma vida inteira. O cinema desperta tantas sensações e formas, empatia e antipatia, coragem e medo, aceitação e vontade de mudanças. É exatamente isso que a arte deve ser, uma provocação de sentimentos abruptos nas pessoas, que podem ou não, ter a ver com a subjetividade de quem os sente. Em setembro de 1931, Federico García Lorca, poeta e dramaturgo espanhol, falava da importância da cultura para o desenvolvimento de uma sociedade em um discurso de inauguração da biblioteca de sua cidade natal. É necessário dar cultura ao povo, pois, sem cultura, não há perspectiva de desenvolvimento individual e coletivo.

A história de Paulo Cardoso, estudante de Jornalismo na Universidade Federal do Ceará, é uma das muitas ramificações que o histórico cine-teatro proporcionou para a cidade de Fortaleza. A paixão de Paulo pelo Cine São Luiz começou aos 10 anos de idade, quando, acompanhado do pai, o menino foi assistir a um filme nas dependências do cinema. A arquitetura do espaço, a sala e tela enormes e diferenciadas cativaram a atenção e o coração de um garoto que viria a se tornar um apaixonado por cinema. Depois desse dia marcante na história do menino ele não voltou ao São Luiz, que acabou sendo fechado para reformas. Paulo relembra com saudosismo dos detalhes, o movimento pulsante da Praça do Ferreira, a fila para entrar no cinema, os cartazes pregados nas paredes, lembra até do cheiro de história que se fazia presente no espaço:
“Tinha um cheiro assim, de antiguidade, não era desagradável, era um cheiro muito característico daquele local”
Desde então, o gosto por filmes, especialmente as adaptações de quadrinhos, ganharam espaço na vida de Paulo. E esse amor é muito por conta da experiência inicial que o Cine São Luiz proporcionou a ele. Até o início de 2017, Paulo não havia retornado ao local que lhe proporcionou sensações tão fortes, até que viu na programação a maratona do filme do Super-Homem e levou o irmão mais novo para assistir. Paulo retornou como homem, e descreve a experiência como tão marcante quanto a da primeira visita. Ele diz ter se emocionado com as lembranças, diz ainda que esse talvez tenha sido o estalo necessário para que ele fizesse o seu Trabalho de Conclusão de Curso sobre o Cine São Luiz.
Paulo e Ana Luíza
Paulo e Ana Luíza

Em parceria com uma amiga, Paulo pensava em produzir um trabalho sobre o bairro onde vive (Messejana) e seus personagens, mas no 6° semestre do curso de Jornalismo, ambos fizeram um grande trabalho sobre a chacina da Messejana, e o tema acabou ficando saturado. No meio desse processo, com o auxílio de seu orientador, Paulo decidiu fazer seu TCC sobre um velho amigo, o Cine São Luiz.

O estudante e amante dessa arte produziu um trabalho transmídia sobre o lugar, que envolve o documentário “O que eu vi da poltrona vermelha”, que retrata personagens que vivenciaram o cine-teatro e sua relação com ele; a fabricação de um álbum de figurinhas com os 60 filmes que as pessoas mais gostaram de assistir no São Luiz, baseado em uma pesquisa no grupo do facebook, “Fortaleza Antiga”; e a apresentação de uma exposição com objetos das pessoas entrevistadas, como folders antigos, caderno de recordações e fotografias de colecionadores.

Paulo narra que se não fosse a paixão pelo cinema, nada disso teria sido feito. O documentário produzido por ele e por Ana Luíza é uma mescla entre o jornalismo e o cinema, fazendo realmente uma produção, com escolha de locação e atrizes, trilha sonora, fotografia, montagem de cenas e roteiro. Para ele, esse foi o maior desafio da graduação, mas também o trabalho mais gratificante e divertido:
“Foi muito desafiador, mas ao mesmo tempo foi muito divertido. É o melhor trabalho que fizemos nesses quatro anos de caminhada, é o que a gente mais está se doando, é o que a gente teve mais prazer em fazer. Todos os dias a gente tinha que fazer alguma coisa, matar um leão por dia, porque senão, não iria dar tempo de ficar pronto"
Paulo finaliza falando sobre a emoção de ver seu trabalho ser reproduzido na mesma tela que o cativou há 12 anos, da sensação de ver seu nome nos créditos, naquela sala de cinema. Ele espera que o trabalho que produziu possa despertar nas pessoas o reconhecimento do valor desse instrumento e equipamento tão forte da nossa cultura. 

O São Luiz é um lugar onde as pessoas podem estar felizes ou tristes, podem estar passando por dificuldades momentâneas, mas ali, na sala de cinema, por um momento, encontram prazer e alegria. Consegue fazer com que a história delas se misture e se confunda com as histórias dos filmes. O Cine-Teatro São Luiz reverbera em Paulo Cardoso.
Vitor Magalhães

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