Marina e Pedro: o que o mar não leva

Projeto NVE - Foto por Juliana Teixeira

A saudade de Pedro tem o mar no nome: Marina, a filha única do professor de fotografia e engenheiro com a enfermeira Islene. Engravidaram inesperadamente, descobriram que já estavam prontos, juntos. Mas ninguém está verdadeiramente preparado para a energia que carregam as ondas. Marina já nasceu nômade. Os pais nunca pararam em um canto fixo, na sua vida nunca houve um lugar de referência, uma casa, uma cidade, um espaço. A sensação de lar da garota não reside em um lugar, mas no constante movimento, a liberdade é sua casa. E foi ela quem a levou para longe dos braços e abraços de Pedro. 

A bordo do navio Freedom Of The Seas há quase um ano, a garota trabalha enquanto fotografa o mundo. Dorme na Espanha e acorda em Portugal. Ou em qualquer outro país. E do outro lado do continente, seu pai dorme  e acorda na casa de onde ela partiu, ao lado de sua esposa e a cachorra que deu à filha de presente. Laika é a lembrança diária a qual ele se apegou. De resto, sobram os álbuns de fotografia que montou, com registros que não poderiam expor o espírito livre e criativo da garota, nem o gosto por fotos, passado dos átomos de um pai apaixonado para os da filha. 

Apesar da similaridade, Pedro nunca prendeu Marina, sempre a estimulou na procura do caminho que o seu coração quis desenhar. Por isso, não cobra sua volta pra casa, não exige que trace um destino  mais presente e nem sente ciúmes do seu namorado. Fora o amor, a confiança é a base da amizade dos dois.  Aliados, eles são capazes de fazer com que o pai sinta vontade que a filha permaneça longe do País em crise, mas próxima de uma estabilidade e de um bem estar que não encontraria aqui. O amor de Pedro não é egoísta, é amor genuíno de pai.
Eu dizia pra ela: Quando lhe perguntarem o que você quer ser quando crescer, diga que quer ser feliz. 
Esse amor nasceu quando Marina ainda estava no ventre. Em uma das fotos em preto e branco que guarda, Pedro aparece ao lado de Islene, imitando sua barriga. Sorrindo, ele conta que ambos engravidaram juntos, no sentido de que todas as responsabilidades foram divididas, como afirma  que deve ser. Pedro, aliás, era quem mais passava tempo com a filha. Do banho às várias brincadeiras, tudo que importava era a felicidade que os momentos divididos permitiam.

Projeto NVE - Foto por Juliana Teixeira

Uma das lembranças mais marcantes era a ida à escola. Enquanto todos os outros pais levavam os filhos de carro, dispersos e estressados com o trânsito, Pedro passava por eles de bicicleta, com Marina no guidão. Os dois percorriam o caminho conversando e rindo. As ruas eram muito mais divertidas quando o amor passava pedalando por elas. Ali, sobre a bicicleta, compartilhavam o mesmo espaço no mundo, e o mesmo olhar sobre ele.

Mundo esse que agora Marina desbrava sozinha. A garota trocou o  guidão da velha bicicleta de seu pai por um navio. Mas ele sabe, e se orgulha, de ter lançado sobre as águas alguém como ela. Sua saudade só não é maior do que a certeza de ter um pedaço seu por aí, dançando outras culturas, vivendo outros povos, sendo outras cidades.

A liberdade levou Marina,
E Pedro é o porto que sempre a espera.
O amor de pai não naufraga, nunca.
Gabriela Almeida e Vitor Magalhães
Pesquise por Freedom of the seas
acompanhe Marina: www.marinetraffic.com

[Galeria]
Projeto NVE - Foto por Gabriela Almeida
Pedro
Projeto NVE - Foto por Juliana Teixeira

Projeto NVE - Foto por Juliana Teixeira
Marina e Islene
Projeto NVE - Foto por Juliana Teixeira
Pedro, Islene e Marina

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