Ana Victória: de A a Zine

Ana Victória Anselmo // Foto: Gabriela Almeida (Projeto NVE)

Fanzine: a simples palavra que abriga um mundo inteiro de temáticas, modos de produção, suportes e formas de leitura; arte feita por pessoas, e para pessoas. Nasceu da união das palavras ‘fan’ e ‘magazine’, que em inglês significam ‘revista de fãs’. Mas fanzine vai além do que a análise etimológica denúncia, é grito de liberdade, é tapa na cara de grupos que acham que detêm controle e propriedade para limitar a produção e o acesso ao conhecimento. Para quem faz, é expressão e meio de contar histórias; vai além do ato de externar ideias no papel, é uma forma de colocar sentimentos. 

De forma totalmente artesanal, os fanzineiros quebram a lógica da produção industrial, criando conteúdos como bem entendem e sem nenhum tipo de controle editorial. Em outras palavras, são artistas que resistem às modas vigentes, escolhendo a dedo os tecidos que serão usados e o conceito final de suas peças.

Conhecemos Victória, orgulhosamente ‘fanzineira’, quando fomos envolvidos por sua conversa rica em alegria, amor e esperança. Conhecemos também a Victória estudante de Pedagogia, garota que une objetivos e paixões, sejam eles pessoais ou acadêmicos. Conhecemos a Victória que faz de tudo para que o ‘zine’ tenha um maior e justo reconhecimento. Em sua vida, o fanzine tem um significado muito especial e isso se inicia antes mesmo de ela ter a noção de que estava produzindo um exemplar. É uma boa história e precisa ser contada.

Um dos primeiros contatos com fanzines foi durante a seleção para jovens embaixadores do jornal de sua cidade, no qual a melhor produção ganharia a vaga. E olha só, ela ganhou. Nesse momento, pequeno e intrínseco momento, o mundo sorria para Victória, confirmando as sábias palavras eternizadas na composição de Vinícius de Moraes e Baden Powell: “A vida é arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida”.

Quando perguntada qual a primeira  coisa que a palavra fanzine lhe remete, Victória responde sem muitas dúvidas: 
Liberdade de expressão, a expressão pessoal de alguém que carrega algum sentimento, o que ela quer trazer com aquilo.
Ana Victória Anselmo, produtora de fanzines // Foto: Juliana Teixeira (Projeto NVE)
Ana Victória
A garota usa seus ‘zines’ nos diversos campos de sua vida, entre eles, o desenvolvimento de características pessoais. Para ela - e tantos outros que encontraram no fanzine um aconchego -, essa arte tão pessoal se mostra como um tipo de auto-ajuda, promovendo um toque de identificação para os que leem suas angústias descritas no papel. E não são identificações distantes, pois, por meio do ‘modo cronista’, Victória faz uso de situações cotidianas para refletir sobre algo ou simplesmente contar um episódio; e também, mais recentemente, tem encarado o desafio de usar o zine em uma dimensão acadêmica, como uma experiência pedagógica alternativa, na qual os alunos têm maior autonomia e aproveitamento na recepção de ‘conhecimento formal’. 

Quando se pensa em educação, é comum achar que bons resultados só serão alcançados por meio de uma forma robótica, binária e engessada de aprender determinados conteúdos, mas é o contrário disso. Educação também é querer aprender algo de que se gosta; pode ser consumada por quem quer aprender por vontade própria e não por pressões impostas. Mas o que isso tem a ver com o fanzine? Não é difícil responder: ele é ferramenta de revolução, tem capacidade de transformar a educação brasileira. O fanzine é forma de ensinar e, consequentemente, aprender. Se bem fundamentado e utilizado em sala de aula, é uma alternativa para romper a monotonia da educação robotizada; é oportunidade para conhecer o campo da paixão pelo ato de aprender.

Mas há obstáculos no caminho, acontece nas melhores caminhadas. Educar por meio do fanzine é um processo que requer tempo e força de vontade, além de alguns recursos. A realidade atual da universidade no Brasil é de escassez crescente, por conta dos (des)governos que congelam e cortam 'gastos' sem pudor e, para manter interesses pessoais, assassinam iniciativas e pesquisas em potencial. É nessas horas que atitude e boa vontade dos que vivem essa realidade na pele servem de combustível para que projetos importantes e intensos sejam mantidos a pleno vapor. É nessas horas que, em meio a Marias, Joanas, Franciscos e Josés, uma única Ana Victória faz a diferença, que tira do próprio bolso em nome do bem comum quando falta apoio de onde deveria ser fonte inesgotável.

Animada, em meio ao seu típico sorriso largo, deixa a alegria gritar:
Amem o fanzine!
E completa: “acessem a página da Zineteca”.

Assim, a cada exemplar pensado, modelado e finalizado, Victória promove sua própria revolução e, passado de mão em mão, usa o fanzine como fio condutor desta; uma revolução no modo de ensinar-aprender; uma revolução para dar voz a fatos e versões que constantemente não são abordados em grandes veículos comunicacionais (e você nem está lendo a descrição do nosso projeto). E ainda mais intenso que tudo isso, Victória faz uma revolução sobre quem ela é. 

Leonardo Maia e Vitor Magalhães.
Edição de Juliana Teixeira.


[Galeria]

Fanzine // Foto: Juliana Teixeira (Projeto NVE) Fanzine // Foto: Gabriela Almeida (Projeto NVE)

Fanzine // Foto: Juliana Teixeira (Projeto NVE) Fanzine // Foto: Juliana Teixeira (Projeto NVE)

Fanzine // Foto: Juliana Teixeira (Projeto NVE)

Ana Victória Anselmo // Foto: Gabriela Almeida (Projeto NVE)

Fanzine // Foto: Juliana Teixeira (Projeto NVE)

2 comentários:

  1. Mil love, ficou tão lindo e poético que nem sei <3

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  2. muito orgulho de ser incentivador, fã e amigo desta pessoas maravilhosa... Parabens VICTÓRIA.

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