A cura gay é um deboche

A cura gay é um deboche // Imagem: http://www.nos2.co/

A cura gay é um deboche
Chega de chorar, vamos rir.

Senhor Waldemar Cláudio de Carvalho, eu não lhe conheço. Não sei como foi sua vida nem sua infância, se gostava de andar de bicicleta ou tinha um cachorro enorme e peludo no quintal. De verdade, isso não importa. O que sei, e o que agora todo mundo sabe, é que andou permitindo que os psicólogos oferecessem tratamento para ‘reversão’ da sexualidade. Em outras palavras, menos engravatadas, ofereceu a possibilidade das pessoas se curarem da orientação sexual delas. Que notícia mais incrível. Agora ninguém precisa mais procurar uma igreja milagrosa ou uma mandinga forte que seja, basta marcar uma consulta. A fila do SUS deve estar enorme. Quem é, afinal, que não quer se livrar da ‘bichisse aguda’

Devo admitir que o senhor acertou em cheio. É mesmo um saco gostar de alguém que nem a gente. Barba com barba, pele com pele igual. E duas mulheres?! Já pensou? Duas bocas macias insultando as ordens divinas da natureza. Uma imoralidade sem tamanho. Aposto que Dandara adoraria ser a primeira da fila, mas ela morreu, senhor, não está sabendo? Levou uma surra, foi colocada num carrinho de mão, como tijolo. Morreu sem servir nem de construção. Era uma travesti, agonizou até o fim como uma. Mais alguns meses e ela poderia virar Dandão. Uma pena. 

Eu sei, o senhor deve estar ouvindo aos montes que a procura por consulta existe por conta dessas violências e dos preconceitos sociais. Que baboseira. Imagina se alguém vai procurar um psicólogo só porque foi chamado de viadinho, agredido com uma lâmpada ou sofrido um estupro ‘corretivo’. Até parece que ninguém sabe que sapatão é mais ‘macho’ que muito homem, e que viado só vive se for de babado, gritaria e confusão. Apanhou? Só passar uma base e subir no salto que a vida continua, meu amor. 

Imagina que louco seria oficializar uma lei que obrigasse agressores e demais preconceituosos a se tratarem, que desumano seria considerar o preconceito uma doença e aplicar a cura pra ele. Se fosse assim, meus pais, meus amigos e minha família estariam contaminados. Seria uma verdadeira epidemia. 

Ufa! Que bom que só eu que sou a doente aqui em casa. 

Sabe, conheço uma garota que não gosta de andar de mãos dadas com namoradas porque sua ex foi agredida por isso, acho que vou indicar o tratamento pra ela. Também tenho uma amiga que foi expulsa de casa porque é trans, outra que foi abusada por um tio porque se assumiu e alguns muitos outros que não se assumem porque têm medo dos pais. Mal posso esperar pra unir a gente daqui a alguns anos, com nossas famílias ‘normais’ e rir dessa época. 

Aliás, espero que o remédio pra essa doença saia logo, pra gente poder dividir as cartelas. É, senhor, a crise por aqui não é só existencial. Por enquanto, basta aguardar em casa, atualizando nossas séries da Netflix, escondidos das pessoas que já nos achavam anormais e que agora vão ter a certeza. Basta deixar de viver pra esperar matarem quem somos. 
Fácil assim, não é? 
Vai desculpando então esse alarde todo que fizeram. 
Em terra de veneração a Bolsonaros e Messias, Senhor Waldemar Cláudio de Carvalho, o senhor não é o vilão, é o herói.
Gabriela Almeida.

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