O cerco de Barcelona



Barcelona, símbolo de diversidade cultural, pluralidade e tolerância; uma cidade que luta por independência e que grita, literalmente, há vários anos para ser ouvida pelo governo espanhol. No campo esportivo a população achou um meio eficaz de demonstrar sua luta para o restante do mundo, o Futebol Clube Barcelona tornou-se um dos maiores símbolos do nacionalismo Catalão. Em todos os jogos do time, aos 17 minutos e 14 segundos de jogo, a torcida faz uma série de manifestações políticas no estádio porque no ano de 1714 aconteceu o momento histórico conhecido como “Cerco de Barcelona” – uma operação militar que derrubou a oposição catalã e suas instituições. Agora, esse mesmo povo que clama incansavelmente por liberdade e emancipação sofre com as ações intolerantes de um grupo que tenta a qualquer custo ter voz na sociedade contemporânea. O terrorismo martela forte o coração de uma das cidades mais emblemáticas do mundo.

No dia 17 de agosto, às 16h50 no horário local, uma van atropelou várias pessoas na região conhecida popularmente como La Rambla, famosa área turística de Barcelona. O veículo percorreu aproximadamente 550 metros em um calçadão lotado de pessoas que aproveitavam o final de tarde na capital catalã. O número inicial de mortos divulgado foi de 15 pessoas e o de feridos chegou a mais de 100. Dentre as vítimas foram identificados cidadãos de mais de 30 nacionalidades. Esse é o ataque terrorista mais grave em solo espanhol desde 11 de março de 2004, quando o sistema de trens suburbanos de uma região de Madri foi atacado simultaneamente. Nesse caso, as explosões mataram cerca de 191 pessoas e feriram outras 2000.

No último Domingo (20) os jogadores da equipe catalã entraram em campo com o nome da cidade em seus uniformes no lugar em que tradicionalmente ficam os nomes dos atletas. Uma homenagem que também serviu como demonstração, evidenciando que os jogadores, a torcida, o clube e a cidade estão perfeitamente alinhados em busca de um caminho para superar as marcas deixadas pelo ataque da última quinta-feira. 

Motivados pela ganância, pelo ódio e pela intolerância religiosa e moral, a impressão que fica é a de que estamos cada vez mais próximos de um colapso social. Esse não é apenas mais um atentado isolado na recente onda de terror que devasta a Europa. Manchester, Berlim, Nice, Bruxelas e Paris sofreram nos últimos 2 anos com o estalar do chicote empunhado pelo Estado Islâmico. Estamos presenciando acontecimentos que facilmente podem desencadear uma terceira guerra mundial. A guerra ao terror é a nova modalidade de combate da era moderna. O problema é que a sociedade vem combatendo terror, com terror, e sabemos que isso não vem dando certo. A falta de diálogo e os interesses políticos e pessoais por baixo dos atentados não são explicados e ficam na superficialidade das manchetes. As coisas que fazemos uns aos outros nessa guerra poderiam ser facilmente evitadas se o bom senso e a conversa tivessem um lugar na mesa dos interesses governamentais, mas a realidade é que a raça humana prefere se autodestruir a aceitar as próprias diferenças. 

De uma forma mais abrangente, precisamos acreditar que o ódio não vencerá e que essas pessoas que estão no comando da guerra terrorista – cito ambos os lados quando digo isso – e se intitulam donos de uma verdade absoluta e irrevogável, já nasceram derrotadas pela própria loucura. É necessário colocar a vida em primeiro lugar, seja nos países ocidentais, nos do “terceiro mundo” ou mesmo nas tribos do Estado Islâmico. Precisamos evoluir no sentido humanista da nossa existência.

Esperamos que os principais alvos de ataques terroristas, como a França e a Espanha, se mantenham fortes, unidos e conscientes de que não se pode revidar. Não se deve combater ódio com ódio. Não se pode criar muros ao redor das relações com os países estrangeiros, especialmente os do Oriente Médio. Não se deve alimentar a xenofobia, porque ela é uma das causas iniciais desse conflito; do contrário, essa guerra silenciosa já estará perdida muito antes do seu final. Precisaremos cada vez mais de bom senso e determinação para fazer as escolhas certas e priorizar, principalmente, a vida.

Vitor Magalhães.

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